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O significado dicionarizado de *commodity* é "tudo aquilo que se apresenta em estado bruto", entretanto, creio que não é necessário fazer nenhum exercício semântico sofisticado para depreender tal conceito como algo de pouco valor agregado, no qual foi empregado pouco ou nenhum esforço de beneficiamento.
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Dito isso, pode parecer estranho utilizar termos como "estado bruto" ou "pouco valor agregado" quando nos referimos ao desenvolvimento de softwares, já que, tal atividade sempre foi notária por exigir mão de obra altamente especializada.
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Como quase todo assunto complexo, para dar início a esta discussão, precisamos nos voltar para passado para entender o que está por vir.
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Na linha do tempo da história da informática, o uso doméstico dos computadores vem bem após o seu emprego militar, acadêmico e corporativo, e por isso, não é de se espantar que os primeiros programas desenvolvidos objetivassem atender estes nichos (com exceções de alguns joguinhos - como *Tennis for Two* e *Zork* - que os primeiros *nerds* criaram entre uma xícara de café e outra).
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Entretanto, com a massificação da computação pessoal e com o advento da Internet, os rudimentos da programação, assim como inesgotáveis fontes de "inspiração", tornaram-se acessíveis a um grupo muito maior de pessoas. Como consequência direta disso, um sem-número de novas *software houses* ou "fábricas de softwares" (eu tenho um problema pessoal e conceitual com este termo, mas isso é assunto para outro artigo...) surgiram, e nesta batida, um coluvião sistemas integrados, Contábeis, para Gestão de RH, de Frente de Loja, ERPs, CRMs, etc... inundaram o mercado.
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A famosa "lei da utilidade marginal" preconiza que o primeiro biscoito de um grande pacote, tem enorme valor objetivo para quem está com fome, mas a curva descrita por esta cifra verga-se para baixo a medida que a pessoa fica saciada, tendendo a zero. Outrossim, seguindo a tradição dos pioneiros, a esmagadora maioria das *software houses* que surgiram no Brasil (com raras e honrosas exceções, como a Fácil Informática, cujo o fundador, Carlos José Pereira, desenvolveu o editor de textos "Fácil", voltado para o uso pessoal, famoso nacionalmente nas décadas de 80 e 90) se concentraram em desenvolver aplicações para o mercado corporativo, e isso, de certa forma, "commoditizou" tais produtos, pois as tendências humanas à indolência e à usura levaram tais empresas a se tornarem grandes "clonadoras" de soluções consagradas.
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Ainda mais preocupante do que a realidade de organizações que se dedicam quase que exclusivamente a replicação de softwares que já existem aos borbotões no mercado, é a situação dos profissionais que só trabalham desenvolvendo CRUD's e desenhando relatórios. Se você se encaixa nesta descrição, pode estar certo que encontra-se preso no *"inception"* da commoditização do desenvolvimento de *softwares*, ou seja, seu trabalho consiste em construir as partes mais desvalorizadas de um todo que já não possui muito valor agregado, é a commodity dentro da commodity.
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### O lado positivo de estar na "Zona de Commodities"
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A Internet é a terra dos extremos! Ou algo é "fantástico" e "genial" ou é "terrível" e um "completo lixo"! Tudo é superlativo, não há gradação, não há meio termo...
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No "mundo real", por outro lado, qualquer gráfico de distribuição de frequência nos mostra que a maioria das coisas e das pessoas encontram-se "no meio termo", na meiuca... Poucos santos, poucos vilões, muitas pessoas "normais"; Poucos gênios, poucos completos idiotas, muitos "Q.I 90"; Poucas Katheryn Winnick's, poucas atrocidades teratológicas, muitas "meninas bonitinhas do condomínio"...
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Assim, como até coisas boas tem suas contradições, coisas aparentemente más tem suas lições a nos ensinar! A zona de commodities é uma grande escola! Você vai aprender, através de **muitas repetições**, a desenvolver softwares com agilidade, a trabalhar em equipe, a lidar com prazos, etc...
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De modo semelhante, é impossível não notar que a maioria das oportunidades para desenvolvedores são para trabalhar "na zona".
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### O lado negativo de estar na "Zona de Commodities"
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> *"Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino."*
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\- 1 Coríntios 13:11
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A zona de commodities pode ser prejudicial principalmente para aqueles que já "não são meninos", para profissionais com uma longa estrada percorrida e com várias décadas de vida. Com a idade vem o aumento das responsabilidades e o desejo natural de fugir daquelas atividades que já não nos instigam. A frustração resultante dos baixos salários e de estar sempre fazendo "as mesmas coisas" pode ser um fardo difícil de carregar.
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Pari passu, veteranos podem se ressentir em ter que disputar mercado com profissionais bem menos experientes, pois para trabalhos simples, experiência e técnicas refinadas contam bem menos do que entusiasmo e boa disposição.
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### Como sair da "Zona de Commodities"?
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Sair da zona de commodities pode significar, antes de mais nada, sair da zona de conforto. Quem desejar progredir na carreira tem que estar disposto a enfrentar obstáculos nunca antes transpostos e a aprender coisas novas.
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O caminho mais óbvio e natural é o de recorrer a cursos e treinamentos, sejam eles pagos ou gratuitos. Todavia, o conhecimento que não se aplica é igual ao minério precioso debaixo da terra... Não tem valor algum! Se você não tiver a graça de aplicar suas novas competências no ambiente de trabalho, o caminho pode ser o de desenvolver um projeto próprio em seu tempo livre, ou melhor ainda, se juntar a algum projeto de código aberto. Estudar uma base de código existente e tentar submeter alterações é uma oportunidade impar de se colocar a prova!
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## Como o ChatGPT pode afetar a "Zona de Commodities"?
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Como toda novidade, a inteligência artificial e o aprendizado de máquina podem afetar algumas pessoas mais e outras menos. Alguns encararão os produtos destas tecnologias como coisas engraçadinhas, como geradoras de pequenas conveniências ou aborrecimentos, ao passo que outros perderão seus empregos e terão suas vidas severamente afetadas. É a inexorável "destruição criativa" do progresso em ação.
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### Trabalhos de baixo valor agregado são as "vítimas preferenciais"
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Quem lembra dos acendedores de postes a gás? Ou dos "despertadores"? Ou dos ascensoristas?
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Os dois primeiros, dificilmente serão lembrados por algum leitor deste artigo, pois são profissões que desapareceram com a eletrificação das cidades, o último entretanto, ainda pode ser avistado em alguns órgãos públicos ou hotéis antigos, mas são cada vez mais raros.
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Os ascensoristas são "fósseis vivos", remanescentes de um tempo em que os elevadores possuíam portas pantográficas que podiam, literalmente, guilhotinar as mãos de um operador incauto. Com os atuais elevadores com controles eletrônicos eles perderam a razão de existir e são mantidos por força da tradição ou por conveniência.
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De forma análoga, bancários vivem inquietos sobe a ameaçadora sombra da automação, frentistas só preservaram seus empregos até hoje por força de uma lei e os operadores de caixas de supermercado acompanham, cheio de receio, as melhorias técnicas dos equipamentos de auto-atendimento.
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A lógica é simples: Se seu trabalho pode ser desempenhado total ou em grande parte por uma máquina, provavelmente não é uma função de alto valor agregado.
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A mesma regra se aplica ao desenvolvimento de softwares. O ChatGPT já se mostrou capaz de realizar trabalhos que um programador "da zona" faria, com relativa desenvoltura.
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### Trabalho de alto valor agregado não serão atingidos (agora)
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Arrisco dizer que, pelo menos nas próximas duas décadas, não veremos inteligências artificiais substituindo juízes em causas complexas, médicos em neurocirurgias vasculares ou desenvolvedores que criam sistemas de HPT (High Performance Trading), que mentém *kernels* de sistemas operacionais ou partes críticas de aplicações de e-comerce, responsáveis transacionar milhões de dólares a cada minuto. Mas até estes não podem dormir em berço esplêndido, pois os acendedores de postes a gás do passado certamente consideravam seus trabalhos vitais e não enxergavam no horizonte (com o alcance que as lentes da época lhes permitiam) a possibilidade de se tornarem obsoletos.
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## Últimas palavras
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Se você se sentiu ofendido por algumas das palavras expressas neste texto, peço perdão, não foi esta a minha intenção. Aconselho ler com paciência, talvez o que você entendeu não seja, de fato, o que está escrito. Todas as idéias aqui expressas são fruto de mais de duas décadas trabalhando com análise e desenvolvimento de sistemas, aonde pude observar tecnologias promissoras vindo e indo, metodologias que afirmavam ser a última bala de prata se mostrando problemáticas quando aplicadas em produção, altas e baixas do mercado, promessas cumpridas e descumpridas, e por aí vai...
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**Para se aprofundar:**
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-[A história do Fácil, o software de edição de texto nacional](https://jornalggn.com.br/economia/a-historia-do-facil-o-software-de-edicao-de-texto-nacional/)
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-[Blog de Carlos José Pereira Empresário do setor de Tecnologia da Informação](https://www.oanalistadeblumenau.com.br/sobre)
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-[Lei da utilidade marginal](https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_da_utilidade_marginal)
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-[ChatGPT Consegue te Substituir?](https://youtu.be/Yl-hlwhj2B0)
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